Os Alimentos na Medicina Tradicional Chinesa.
- Healing Bird
- 16 de out. de 2021
- 6 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2021
Com tantas teorias sobre dietas diversas sobre a melhor forma de se alimentar, por vezes é difícil saber o que é realmente bom para o seu organismo. Assim, a percepção sobre o que é de facto uma alimentação saudável está constantemente a mudar. Mesmo que saibamos muito sobre Lípidos, Hidratos carbono, Proteínas, Minerais e Vitaminas, há sempre novas pesquisas que introduzem algo novo e tornam obsoletas as crenças anteriores.
Mas do que realmente precisam os nossos corpos?
Munindo-se de conceitos da medicina tradicional, os chineses têm sua própria abordagem sobre a alimentação saudável. Provavelmente, eles representam a cultura que mais acredita na máxima "És aquilo que Comes" – mesmo que nem sempre sigam isso à risca.
Abaixo, avaliamos a que ponto alimentação e medicina se relacionam – e se esses conceitos podem ser aplicados fora da China.

1 - Alimentação é remédio, e remédio é alimentação
Comparativamente com a cultura ocidental, a alimentação e a medicina se sobrepõem na cultura chinesa. Por exemplo, a melancia é um alimento, mas pode ter também um efeito medicinal durante os dias de calor, por causa de sua alta capacidade de hidratação.
Os clãs antigos da China, de há cerca de 2.200 a.C., começaram a descobrir os diferentes valores medicinais de ervas enquanto caçavam e guardavam alimentos. Alguns alimentos curavam doenças, outros levavam à morte. Com o tempo, a filosofia da medicina chinesa foi-se desenvolvendo.
Porém, há alguns alimentos que os chineses consideram mais como "remédio" que como "comida", como é o caso do gengibre. Contudo, antes de utilizá-lo para tratamento, é necessário consultar um profissional, pois a sua ingestão pode causar pioras na saúde. O motivo disso é que os alimentos têm propriedades distintas e cada pessoa, um organismo único, responde de maneira própria dependendo do que é ingerido.
2 - As propriedades dos alimentos
Na medicina tradicional chinesa, os alimentos são divididos em cinco essências:
- gelado
- frio
- neutro
- morno
- e quente.
A natureza do alimento não é determinada pela sua temperatura do momento, mas sim pelos efeitos que pode ter no corpo após o consumo. Se uma pessoa ingerir continuadamente apenas um tipo de alimento, vai gerar um desequilíbrio no corpo que afecta o sistema imunológico. Assim, um dos fundamentos da medicina chinesa é manter o corpo "neutro".
Alimentos mornos e quentes que geram calor no corpo humano – por exemplo, carne de vaca, café, gengibre, pimenta e fritos – enquanto aqueles que são gelados e frios diminuem a temperatura corporal – como saladas, queijo, chá verde e cerveja. Alimentos como óleo, arroz, carne de porco e a maior parte dos peixes são considerados neutros.
Uma pessoa que tenha ingerido muitos alimentos quentes, normalmente sente calor, tem tendência para transpirar muito, apresenta alguma irritabilidade, lingua inchada e pode ter prisão de ventre.
Já aqueles que comem muitos ingredientes frios ou gelados têm pés e mãos frias, podem se sentir fracos ou ter problemas na circulação. Quando isso acontece, a recomendação é parar de ingerir alguns desses tipos de alimento.
3 - Mais do que um sabor
De forma similar ao mundo ocidental, os chineses dividem os sabores em cinco:
- ácido,
- amargo,
- doce,
- apimentado
- e salgado.
Porém, à luz da Medicina Chinesa, há mais para além destas sensações. Na medicina tradicional chinesa, cada alimento leva os nutrientes para os órgãos correspondentes:
- o ácido vai para o fígado e ajuda a parar com o suor e a diminuir as tosses;
- o sal entra nos rins e pode drenar, purgar e suavizar as massas de comida;
- os alimentos amargos vão para o coração e para o intestino delgado e ajudam a resfriar o corpo e a secar a humidade;
- a pimenta entra nos pulmões e no intestino grosso e estimula o apetite;
- o doce vai para o estômago e para o baço e ajuda a lubrificar o corpo.
Desta forma, é importante que cada um destes sabores esteja presente na dieta diária.
Isso significa que, para ser saudável, é preciso apenas comer alimentos neutros em todos os sabores? Não necessariamente. A escolha dos alimentos é afectada pela fisiologia corporal, pelas estações do ano e pelo lugar em que se vive. A condição do organismo também pode ser afectada pela idade, pelo género e pelo estilo de vida de cada individuo. Ou seja, os profissionais da medicina tradicional adaptam suas recomendações a diferentes condições e a cada individuo.
4 - A mesma abordagem não serve para todos.
Assim como todos temos personalidades diferentes, todos nós temos constituições corporais ímpares. E, da mesma forma que não se consegue comunicar com todos da mesma forma, também não se pode alimentar todos os corpos com os mesmos alimentos da mesma forma.
O que é "constituição"? As categorizações passam por mudanças desde os primórdios da medicina chinesa. Actualmente, uma das divisões mais populares foi desenvolvida por Huang Qi, que introduziu, em 1978, nove tipos de corpos.
Uma pessoa com muita "humidade e muco" no corpo tende a ter peso a mais, pode suar bastante e ter o rosto oleoso. Esses indivíduos também costumam ter um temperamento mais leve.
Contudo, uma pessoa com muita "humidade e calor" é normalmente irritadiça e muitas vezes possui um rosto oleoso, com muitas espinhas. Ambos os tipos precisam de alimentos diferentes para eliminar a humidade. Isso significa que doces, que "lubrificam" o corpo, podem piorar a situação.
Cada tipo de alimento, dependendo da sua essência, pode melhorar ou piorar a situação. Não existe uma substância que é boa para todos. Muita gente diz que o gengibre é saudável, mas se você for uma pessoa com organismo seco e tiver muito calor no seu corpo, quanto mais chá de gengibre beber, mais seco o seu corpo ficará.
5 - Comer de acordo com a estação do ano
A estação e a época do ano também são factores que devem ser levados em consideração. Por exemplo, a Primavera é normalmente mais húmida na China, o que significa que, durante essa estação, é melhor ingerir alimentos que possam eliminar a humidade no corpo, como milho, feijão e cebola.
O Verão é quente, por isso, são recomendados alimentos que possam refrescar o organismo, como a melancia e pepino. O Outono é seco, o que significa que, nesta estação, precisamos de alimentos para "lubrificar" o corpo, como ervilhas e mel. O Inverno é frio, logo, o mais recomendável é ingerir comidas quentes, como carne de vaca ou camarão.
Num mundo globalizado é fácil encontrar alimentos fora de época. Contudo, as tradições chinesas dizem-nos que essa pode não ser a melhor forma de nos alimentar, pois produtos sazonais fornecem-nos a energia (nutrientes) que precisamos numa determinada estação. Um conceito parecido também existe no mundo ocidental.
6 - Encontrar o meio-termo
Mas então, o que pode ser considerado saudável e o que deve ser evitado?
Segundo a medicina tradicional chinesa, todos os alimentos são nutritivos e desde que uma pessoa saudável não coma demais um só produto, nada faz mal à saúde. Filósofos chineses recomendam sempre encontrar o "meio-termo", ou o "caminho do meio", ou seja, evitar extremos. Segundo as tradições, é também muito importante não comer demais (tentar ingerir até 70% da sua capacidade) e consumir alimentos que estejam a uma temperatura moderada, evitando assim a sobrecarga dos órgãos digestivos. Afinal de contas, tudo é equilíbrio.
Há um ditado chinês que diz: "Os cinco grãos fornecem nutrição. Os cinco vegetais fornecem preenchimento. Os cinco animais domésticos fornecem enriquecimento. As cinco frutas fornecem apoio." Isso significa que uma dieta equilibrada, na qual os alimentos são consumidos em combinações apropriadas de acordo com suas essências e sabores, são capazes de fornecer ao corpo humano o que ele precisa.
Em resumo, a Medicina Tradicional Chinesa entende o indivíduo como um todo e a saúde como um ténue equilíbrio. dinâmico entre os aspetos físicos, mentais, emocionais e espirituais da vida, bem como do seu relacionamento com o meio em que vive.
Através de diferentes terapêuticas, das quais faz parte a dietética, regulariza o fluxo energético, equilibra mente e corpo, permitindo ao organismo a preservação, essencial para retardar o envelhecimento, prevenir e tratar doenças. Efectivamente, os alimentos constituem um dos factores mais importantes na prevenção de doenças e na manutenção do equilíbrio. A Medicina Chinesa relaciona os alimentos e suas características com os seus efeitos sobre o sistema energético humano, permitindo assim a sua utilização na manipulação das condições do organismo em busca do equilíbrio.
Segundo esta filosofia, a energia tem duas qualidades: Yin e Yang. Acredita-se que os alimentos yin são mais nutritivos e calmantes, e os yang mais estimulantes.
Recomendações Básicas da Dietética Chinesa para uma Alimentação Saudável e Holística:
Comer com prazer, num ambiente agradável, sem distrações externas;
Mastigar 10 a 15 vezes antes de engolir. Comida bem mastigada, sacia mais rapidamente e previne a obesidade.
Ingerir poucos líquidos (yin) durante as refeições. O líquido em excesso afoga o fogo digestivo do estômago. Os líquidos deverão ser ingeridos, sobretudo, entre as refeições.
Privilegiar alimentos frescos e evitar alimentos processados, congelados, vísceras, aditivos alimentares, açúcar refinado e adoçantes.
Proporção dos Alimentos:
50-80% – Grãos (milho, cevada, painço, aveia, arroz, espelta, trigo)
30-40% – Legumes (cenouras, batatas, erva-doce, feijão, repolho, leguminosas como feijão e lentilhas)
5% – Carne ou, ainda melhor, peixe
5% – Alimentos crus, saladas, fruta
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